#12 Livros, solidão e fim de ano — O amor que buscamos nas palavras que calamos
Eu janais havia me confrontado com a herança do abandono na vida de uma pessoa. Era uma lacuna que foi preenchida com livros e que cada frase da vida era lida com uma dor dilacerante.
⚠️ Alerta de gatilho para quem já passou por situações de abandono e solidão que geraram efeitos nocivos contra, por exemplo, o próprio corpo.
Era fim de ano, quase por esses dias, mas há muitos anos atrás, quando fui procurado por uma paciente que estava se aposentando.
—Eu sempre amei os livros, mas ultimamente olho para a minha biblioteca e não gosto de nada. Nem do meu marido e nem tenho vontade de estar com os meus filhos.
— Mas isso começou quando? Esse sentimento.
— Qual sentimento?
— Esse incômodo com a sua biblioteca e a sua família?
— O doutor, falando assim, é estranho. Eu amo a minha família.
— E os seus livros? — lembro que estava claro para mim: ela estava questionando a história de vida que havia construído mas admitir isso lhe causaria imensa dor: porquê?! Eu deveria seguir outro caminho para entender a demanda dela — Pergunto sobre os livros; foi o que você citou por primeiro.
A paciente tinha um pouco mais que cinquenta anos e trabalhou desde muito jovem. Casada desde os 27 anos, mãe de uma filha e dois filhos, professora. Sua vida conjugal era como todas as outras: monótona (espero críticas contundentes de vocês por essa afirmação). Enquanto mãe ela era quase como todas as outras: os filhos haviam saído de casa e ela estava feliz com isso. O que era bom. A aposentadoria causava angústia, mas não era o “fato de não fazer nada e sim que a obrigação de ler, havia chegado ao fim”, nas palavras dela.
E ela vinha sofrendo de uma crescente angústia e um sentimento de abandono e/ou solidão. O e/ou era justamente usado por ela para se referir ao estranhamento que estava observando em si mesma.
A psicanálise identifica vários mecanismos de defesa que as pessoas usam para lidar com o abandono afetivo e suas consequências. A negação, por exemplo, pode levar alguém a negar a profundidade do impacto emocional do abandono. A projeção pode fazer com que a pessoa culpe os outros por seu próprio medo de abandono (link).
Lembro que a angústia que ela sentia e o fato do natal estar próximo, tiveram um efeito devastador na paciente. Inclusive a recomendação de uma consulta com um psiquiatra para o uso de medicação. Era cedo demais para pensar em qualquer tipo de diagnóstico, afinal, não se tratava disso e sim de escutar a angústia que aparecia enquanto sintoma. Além dos diversos atos falhos que ela cometia quando pronunciava a palavra abandono que ela trocava apor uma palavra que remetia a sua cidade natal.
O que havia na cidade natal da paciente que estava relacionado com livros, o abandono, a solidão e a angústia que estava tomando conta da sua vida?
Na última sessão do fim de ano, em apenas quatro consultas, a paciente cometeu um ato falho quando eu perguntei sobre o último livro que ela estava lendo.
— O que significa você trocar o nome do livro pelo nome de sua avó materna? Qual do título do livro com ela?
— Estranho mesmo… Acho que nenhuma relação. O título do livro é “Duas vezes pai” e o nome de minha avó é Maria.
— E o nome do seu pai?
Continua…
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IS Indica
(quase e de vez em nunca o livro indicado está relacionado com a tema da publicação)
Quantos segredos uma traição pode esconder?
A intrigante questão ”Capitu traiu ou não traiu Bentinho?”, considerada o maior enigma da literatura brasileira, serve como fonte de inspiração para este romance juvenil LGBTQIA+.
A trama se desenrola quando Otávio, um jovem franzino e desinibido, conhecido por fazer amizade somente com as meninas do colégio, decide aceitar a proposta de Anderson, um dos “valentões” do time de futsal. O plano engloba a criação de uma amizade falsa com a namorada do seu proponente, Alana, para investigá-la e esclarecer as suspeitas de traição que pairam sobre ela, em troca de “proteção” do bullying que Otávio sofre por ser diferente. Porém, o que inicialmente parecia um plano perfeito logo sai do controle, lançando todo os envolvidos seus no centro de uma grande confusão!
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O amor que buscamos nas palavras que calamos
é uma publicação quinzenal aqui na IS.
Até daqui uns dias!
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Me identifico com este relato, esta época é sufocante, angustiante e opressiva em todos os sentidos. O que se derrama nela é sempre uma ilusão e os livros, como companhias e defesas, considero como importantes preenchimentos. É tudo mais uma questão de escolha e perspectiva, cada um(a) que também se sente estrangulado por esta data encara a mesma de um jeito diferente. Este texto me tocou profundamente.