Muitas vezes, as pessoas só entram em relacionamentos para serem magoadas, decepcionadas e buscarem dores e humilhações que fazem vincos no corpo e deixam traumas na mente.
Quando eu comecei essa news quinzenal, além do desafio de falar sobre casos clínicos, cinema e psicanálise sem ser repetitivo, também queria abordar assuntos da maneira mais ampla possível. E estou feliz que o diálogo está brotando como nascente de rio.
Nessas décadas de consultório, certamente, o amor é o tema mais abordado. Cito aqui algumas frases de Freud e Lacan sobre o amor. Essas frases revelam diferentes perspectivas sobre o amor, mostrando como ele se entrelaça com o desejo, o inconsciente e a constituição do sujeito. Ao londo das news comentarei as frases.
“O caráter da compulsão com que o amante se apega à pessoa amada nos lembra nitidamente a maneira pela qual o obsessivo se apega a seus sintomas.”
“O ser humano nunca é tão indefeso contra o sofrimento quanto quando ama.”
“Amar e trabalhar são as pedras angulares de nossa humanidade.”
“Encontramos um dia a pessoa que pode substituir nosso ideal de ego e, por isso, a amamos.”
“O amor é a meta da vida e o princípio da civilização.”
“O amor é dar o que não se tem a alguém que não o quer.”
“O amor é impotente, ainda que recíproco, porque ignora que é apenas o desejo de ser Um.”
“O que constitui o amor é o fato de que ele se dirige ao ser.”
“Só o amor permite ao gozo condescender ao desejo.”
E qual o motivo de minha escolha para falar justamente sobre o amor, hoje? Talvez seja em razão de que somente agora, com mais de 40 anos, eu me sinto preparado para amar. Para ser livre e feliz, pois, acredito que o amor está entre a liberdade e a felicidade, como preconiza a psicanalista Regina Navarro Lins.
Freud observa que o amor, especialmente nas suas formas mais intensas e obsessivas, pode assumir um caráter compulsivo, semelhante ao de um sintoma neurótico. Assim como um sujeito obsessivo repete determinados comportamentos sem conseguir escapar deles, um amante pode se fixar de maneira exagerada na pessoa amada, muitas vezes de forma irracional e dolorosa, como se estivesse aprisionado por uma necessidade interna inconsciente.
E é justamente isso que eu vejo dia pós dia em meu consultório: pessoas sofrendo e se enterrando em dores que chamam de “amor”. Amor não é dor. Amar não é sofrer e nem padecer. Amar está entre a liberdade e a facilidade e nunca entre dor, abandono e solidão. Enquanto não aprendemos a entender o que nos foi legado como amor pelos que nos criaram, padeceremos em infernos cheios de anjos com asas formadas de culpa.
Lacan entende que amar envolve oferecer ao outro algo que sentimos como uma falta dentro de nós mesmos – um desejo, um reconhecimento ou uma completude que jamais possuímos de fato. Além disso, o outro, por sua própria estrutura subjetiva, nunca poderá receber plenamente esse "presente", pois também está imerso em suas próprias faltas e desejos inconscientes.
E é aí justamente que nos perdemos: exigimos do(a) outro(a) o que ele(a) possivelmente não tem nem pra si mesmo(a). Queremos um tipo de atenção integral que, obviamente, sempre é impossível: nos magoamos por coisas que o outro é incapaz de nos oferecer: e sabemos disso! Ficamos ao redor de relações que nos magoam justamente por que repetimos o que não entendemos.
Lacan aponta que o amor, por mais intenso e mútuo que seja, não pode preencher completamente a falta estrutural que constitui o sujeito. No fundo, o amor é o desejo de fusão, de alcançar uma unidade perdida, mas isso é impossível, pois o sujeito está sempre dividido pelo inconsciente. Assim, o amor nunca é plenamente satisfatório, pois não pode anular essa falta constitutiva do ser humano.
Freud destaca a vulnerabilidade emocional que acompanha o amor. Amar significa se abrir ao outro, depositar nele expectativas e desejos, e, portanto, expor-se ao risco do abandono, da rejeição ou da perda. O sofrimento ligado ao amor não se deve apenas a fatores externos, mas à própria estrutura psíquica do sujeito, que projeta no outro suas carências e ideais.
Toda vez que ouço alguém dizer que “está sofrendo por amor”, eu sempre replico: está sofrendo por si mesmo, pelas suas faltas e por não aceitar que o que você projetou no outro já continha em si mesmo o germe do fracasso, desde o começo da relação. Se você voltar no tempo para o começo daquela relação, vai perceber que toda a história já estava lá, você que não quis olhar e decidiu ignorar.
Da onde tirei as frases?
Freud, S. (1912). Sobre a disposição à neurose obsessiva. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. XII. Imago.
Freud, S. (1921). Psicologia das Massas e Análise do Eu. Edição Standard Brasileira, Vol. XVIII. Imago.
Freud, S. (1930). O Mal-Estar na Civilização. Edição Standard Brasileira, Vol. XXI. Imago.
Freud, S. (1914). Introdução ao Narcisismo. Edição Standard Brasileira, Vol. XIV. Imago.
Freud, S. (1905). Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Edição Standard Brasileira, Vol. VII. Imago.
Lacan, J. (1955-1956). Seminário 3: As Psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Lacan, J. (1972-1973). Seminário 20: Mais, Ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Lacan, J. (1957-1958). Seminário 5: As Formações do Inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Lacan, J. (1972-1973). Seminário 20: Mais, Ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Amores, dores e pipocas literárias
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