# 21❦ Amores, dores e pipocas literárias
Se a conta não fecha e o desejo também não abre: não é só com você. Entre boletos vencidos e vontades adormecidas, você já teve a impressão de que nem o desejo dá conta das cobranças do dia a dia?
Eu ando me sentindo exausto. As questões financeiras, que não dizem respeito só ao dinheiro, mas à carga invisível de lidar com dívidas familiares que não são minhas, têm me corroído por dentro. É como se cada cobrança silenciasse um pouco do tesão de sentir. E o pior é perceber que esse peso não fica restrito ao extrato bancário: ele invade o corpo, os afetos, o desejo. Às vezes me pergunto se ainda tenho algum espaço em mim que não esteja ocupado pela preocupação da data de vencimento do próximo boleto.
Sinto que até o meu desejo pediu demissão. A libido, antes tão viva, anda recolhida, tímida, como quem sabe que não é mais bem-vinda aqui dentro.
Prazer virou luxo. Tocar e ser tocado já não acendem mais o que acendiam. E não porque não haja vontade: mas porque tudo em volta só me pede resistência. Aguente, me dizem. Aguente o tranco, o silêncio, as frustrações acumuladas. E eu vou, mas vou no automático. Cansado. Travado. Como se nem o meu corpo desse conta de mim. Tem dias em que nem o desejo aparece. Fica escondido, mudo, como se também tivesse vergonha de surgir em meio a tantas urgências. Tudo o que antes me dava prazer agora parece tarefa. A libido desaparece sob a tirania da produtividade e do cuidado com o outro. E quando percebo, estou em ruínas, funcional, mas fragmentado. Sem tempo pra devaneio, pra prazer, pra mim.
E nesse ritmo de sobreviver, o colapso vira cotidiano. Mal me olho no espelho, afinal, se achar bonito é para quem não tem contas para pagar, grita meu inconsciente de forma traiçoeira.
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