# 16❦ Amores, dores e pipocas literárias
Escutar quem está na sua frente, contando as suas dores, requer não somente empatia mas, acima de tudo, um amor que seja genuíno... É possível?
Esse caso foi outro dos mais desafiadores que já enfrentei. Houve momentos em que me questionei se minha presença ali realmente fazia diferença — uma dúvida que, confesso, ainda me acompanha, pois frequentemente reflito sobre os limites e possibilidades da escuta terapêutica. Além disso, enfrento (e ainda enfrentarei) dias em que me pergunto: como continuar exercendo essa profissão quando a dor do outro parece, tantas vezes, impossível de aliviar?
O paciente tinha 17 anos e já passara por diversas internações psiquiátricas desde os 13. Havia tentado o suicídio mais de uma vez e, entre idas e vindas, dizia não saber ao certo se queria continuar lutando. Oscilava entre a esperança e o desamparo — ora desejando recomeçar, ora convencido de que a vida não tinha mais nada a lhe oferecer.
Nesse cenário, compreendi que a técnica, por mais refinada que fosse, não bastaria. O que esse paciente precisava, antes de qualquer intervenção, era sentir-se genuinamente acolhido, ouvido sem julgamentos e aceito em sua vulnerabilidade. O amor — não no sentido romântico ou idealizado, mas como uma disposição profunda para reconhecer e valorizar a existência do outro — tornou-se, então, a base do nosso vínculo terapêutico.
Ao longo dos atendimentos, percebi que era o amor que sustentava nossa troca: estava presente na paciência necessária para ouvir, no respeito ao seu tempo de elaborar a dor, na capacidade de permanecer ao seu lado mesmo quando ele próprio queria se afastar. Amor, nesse contexto, não era complacência, mas um compromisso ético e humano de permanecer, mesmo quando o caminho parecia sem saída.
Foi somente a partir desse amor que ele começou a confiar. Pequenos gestos, como lembrar-me de algo que ele dissera semanas antes ou reconhecer sua coragem por continuar comparecendo, tornaram-se pontos de ancoragem. Aos poucos, ele passou a enxergar possibilidades onde antes só havia desespero. O amor, expresso na escuta genuína, foi o que lhe permitiu perceber que não estava sozinho — e que sua dor, por mais intensa que fosse, não precisava ser carregada em silêncio.
Ao final do nosso processo, ficou claro para mim que, embora técnicas e teorias sejam fundamentais, é o amor que torna o cuidado real. Ele não resolve tudo, não elimina a dor do mundo, mas oferece um solo firme para que o paciente, aos poucos, encontre sua própria força para seguir. E, talvez, seja esse o verdadeiro papel do terapeuta: ser alguém que, com amor e presença, ajuda o outro a acreditar que ainda há caminhos possíveis.
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Amores, dores e pipocas literárias
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