#4 — O amor que buscamos nas palavras que calamos: Espinhas no rosto e Solidão na alma *Parte 2
As espinhas daquele jovem, que nunca havia tocado intimamente o próprio corpo, revelavam anos de extrema angústia e solidão.
Na última #4 — O amor que buscamos nas palavras que calamos, começamos a explorar o caso do paciente que não vivia suas vontades e desejos. Em seu rosto, marcado por espinhas, estava o registro da total falta de prazer em sua vida. Hoje quero contar para você como as espinhas foram secando e o prazer transbordando.
— Eu fiz o que você me disse, doutor: no momento em que eu troquei a cueca limpa, segurei meu pênis.
— Eu não disse isso. Foi o que você interpretou. O que eu disse, foi: “e qual seria o problema de aproveitar a troca da cueca molhada no banho para tocar seu pênis?” Ao que você respondeu: “Deus me puniria, é o que disseram meus pais a vida inteira”.
— Não aconteceu nada. — Ele fica emocionado. — Mas ao mesmo tempo aconteceu tudo. — Ele leva a mão ao rosto, mas não toca as espinhas. Abaixa a mão e coça a virilha.
É muito interessante que, como psicanalista, eu nunca dou conselhos ou falo o que a pessoa tem que fazer da vida dela.
Quem dirige a própria análise é o paciente. Mas a interpretação do paciente das palavras que o analista diz, também indica, nesse caso, o desejo reprimido. Assim como a água encontra um caminho para verter e jorrar.
Naquela sessão, lembro que apontei para ele a mudança que havia acontecido ali. O paciente já não estava mais tocando as espinhas. Nascido em uma família da Igreja Testemunhas dos Santos dos Últimos Dias, a repressão sexual que sofria era algo marcante em sua vida. A religião, e todos os medos que com ela foram criados, era parte intrínseca de sua vida. Perguntei para ele o que ele sentia e o que significava “estourar” aquelas espinhas todos esses anos. Ele pensou por um instante, sorriu (mostrando certa agitação) e disse em um tom de voz baixo:
Eu sentia um prazer muito grande. Talvez, o único. Parece que estourar uma espinha era como… sabe… aquilo que sai do pênis… o “leite”.
Para Freud, “A pulsão seria, para Freud, um impulso que tem como objetivo, a conservação e o alívio das tensões. O autor diferencia alguns tipos de pulsão, mas todos eles teriam a missão de apaziguar uma falta originária que é motivo de angústia. A pulsão estaria no limite entre o somático (corpo) e o mental, e Freud, em sua primeira teorização, acreditava que ela era o representante psíquico. Mais tarde, com a introdução do conceito de pulsão de morte, há uma releitura da teoria, admitindo que existe uma pulsão que não tem representação” (link).
Entendemos que, para Freud, na condição de força que atua sobre o aparato psíquico (o inconsciente, por exemplo), a pulsão é o que lhe dá mobilidade. Possui duas características essenciais: “a sua origem em fontes de estimulação dentro do organismo e seu aparecimento como força constante”. A pulsão, literalmente aquilo que pulsa dentro de nós, do nosso aparelho psíquico, é uma força motriz que tem reflexo o nosso corpo e os nosso sentimentos. Sendo assim, o ato de estourar uma espinha, era a maneira de como toda a pulsão sexual era “jogada” para forra, “jorrando” do corpo do paciente, assim como quando na masturbação, ou no ato sexual, gozamos.
No caso do paciente, era muito mais do que isso. Era a representação da própria vida que estava reprimida dentro dele. Quando ele entrou no consultório, ainda muito jovem, especialmente naquele primeiro ano de análise, não imaginou que sua vida floresceria tanto. De quase à beira de uma depressão profunda, para alguém que se livrou das amarras de uma crença que o impelia à tristeza e solidão constantes. O ato de tocar o próprio corpo, de sentir prazer com ele, foi o primeiro passo não somente para a vida sexual, mas para uma vida em que a liberdade, a felicidade e a auto-estima andavam de mãos dadas.
O amor que buscamos nas palavras que calamos é uma publicação semanal aqui na IS.
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Penso em quantas coisas não fazemos por compulsão, para não exteriorizarmos o desejo que sentimos. Faz alguns anos que passei a cultivar curiosidade e amor pela psicanálise. Recentemente, há aproximadamente quatro meses, tomei vergonha na cara, e participo das sessões de análise semanalmente. E por hora, o que posso dizer é: O Desejo é a entidade mais voraz, criativa, fascinante e assustadora desse Universo. Se atendido com moderação, pode se tornar um anjo. Se reprimido, torna-se o verdadeiro demônio.
Obrigado por compartilhar! Voltarei mais vezes.