A Arte Tomada Pela Burguesia — Parte I
Música para as grandes massas: seu peso é comparável a um obeso porco tosco, fresco para a morte, com os peitos instigados por porra, pelo pinto que balança a cada grave tocado. Barbas, rebanho: seu violão é ainda estável? Suas mãos estão ainda com o mesmo anel? Falar pela conformidade é fácil, cretino! Sua pança ainda guarda a vagina de sua mãe! — aos outros: seu cabelo esconde tão perfeitamente seu rosto fatigado pelo desespero! Há um corte no seu útero, e este apodrecerá no inferno. Ainda sofre por amor? Sua música de nada se diferencia do fascismo.
Aos pintores de massa: sua tela remetida pela paisagem formidável ainda afasta seu vínculo com a morte? Sua tela em uma longa parede lisa ainda diz muito sobre sua embriaguez? Morto! Temos vontade, de verdade, de rasgar sua pintura e provocar um incêndio naquela mansão. Sua pintura de nada se diferencia do fascismo.
Aos escritores de belas poesias: você continua com 16 anos? Onde acaba a sua língua e começa a sua ação? Onde você guardou a faca que mataria sua mãe? Tem medo de ganhar quilos, mas ainda proclama lindos versos sobre a vida? — ou pior: a vida é inútil, mas ainda continua a explorar sua cabra vadia adormecida em seu cérebro? Aonde vai com esse caderno de poesia? Estuprar seu veado? Seu método passivo é ainda disfarçado com poesia sobre amor e dor? Por que você não assassina sua própria poesia? Escreve tanto para si que, logo mais, esquece de escrever? Sua escrita de nada se diferencia do fascismo.
Aos ouvintes de músicas de massas: seu ídolo continua metendo o pau dentro da sua boca? Onde você jogou fora aquela camisinha? No lixo do banheiro do seu porco imundo? Quanto você pagou para sofrer lobotomia? Gastou muito em adereços e estampas? Te dão dinheiro para tal outdoor? O discurso ágil e fácil te fascina? Sua servidão voluntária é visível, cuidado! Pode bem ser confundido com um militar. Lê tantas distopias, ein! Ainda não percebeu seu Jesus Cristo? Chupe o pau dele! Chupe! — não de forma muito rápida, ele pode gozar antes de você.
Surrealismé: acto de la burguesia comprexié! Sonhé, sonhé, pureze! Comunisme? Partidé? Vergonhé?
Musique: estoy a vidrado en mi realiudad! My conforto, mi dío!
Cinema: my hero favorite is the men! Men that… men! — i want to be ele! Sochar en todas las vadías
Bertolt Brecht
Em quarta parede quebrada, seu gesto sugere o cotidiano como forma de ataque, provocação e incômodo. Atores sendo atores. Revolução sendo revolução.
O Dentro é o Fora
Para qualificar aqui, é claro, preciso convocar algumas outras alegorias:
O dentro é o fora vazio. O dentro é o artifício do fora. O fora é o que realiza o dentro sendo, ainda assim, a própria totalidade.
Quando se visto de fora ainda se está dentro.
Quando se visto de dentro, continua por fora.
Quanto tirado o fora, continua o vazio.
Quando analisado o dentro, se olha para fora.
Quando correndo por fora, busca o dentro
Quando dormindo por dentro, se sonha com o fora.
Quando morto por fora, vazio por dentro.
Quando morto por dentro, lindo por fora.
Quando morto em ambos, vazio por dentro e fora.
Quando vivo por ambos, tudo por dentro e nada por fora — ainda que o fora, seja mais vivo.
O vivo é o intestino do dentro.
O morto é a alma do fora — por mais vivo que ainda seja.
O gozo, quando por dentro, não pode ser visto por fora, mas, ainda assim, sentido por quem está fora — e dentro.
O gozo quando por fora pode ser visto por dentro, por fora e pelo vazio — ainda que o vazio veja o gozo por ambos.
A Arte Tomada Pela Burguesia — Parte II
A arte passional, isto é, aquela que não instiga, não revolta, não morre e conforma, se torna, ao tempo, ato decorativo; é a eficácia da burguesia nos tempos de simplificar a arte como ato de divertimento, luxo, padrão para massas e conformismo. A arte vendida em réplica se torna a convulsão de um capital engolidor de toda e qualquer fonte e movimento artístico — tudo se volta a este capital forçadamente e de forma assassina, a ponto que, em qualquer forma, aquele que pretende viver daquele trabalho artístico cai em garras de: vender, consumo, causa e público. Daí em diante não é difícil cair em mãos de massas, do rebanho. Voltemos à arte passional: cinema; voltado a público imbecil que, em caso, cai em entretenimento conformável de seriados, filmes esdrúxulos de heróis e folclore. Fácil é, de qualquer modo, estabelecer de cara, no cinema, quem é o vilão e quem é o agente defensor de causas — e neste campo se abriga a famosa crítica à indústria, onde que, sempre levará a lugar algum (é produzido pela própria indústria); autocrítica está na moda da carniça humana atual. É divertido sentar em seu sofá e assistir aos mais insignificantes filmes babacas. Passamos do cinema para a pintura. Lindas paisagens, marcas históricas, um retrato, um movimento de sabe-se-lá-onde: é assim a marca burguesa. Decoração por milhões — efeito potlatch. De todas as formas, essa massificação de obras de arte, justifica a companhia das massas, o conformismo artístico — ora, pois… é lindo. Lindo quadro, linda tela! Abandone a marca da técnica — é proposital como assassinato ao pensamento. A coragem insiste em roer aquela massa falsificadora que banha a burguesia de moldes rasos, uniformes e rostos lindos. Assim, partindo do ponto em que o pensamento crítico, incômodo e cotidiano é afastado, o indivíduo também se afasta de todas as outras causas de aspectos artísticos e suicidas. A máfia do assassinato cultural é que surge em grandes telas, em grandes companhias músicas, romances escritos para fonte de emoção — e não de revolta — , em jogos de conformismo e pinturas decorativas — museus.
O Separador
O padre separa o acontecimento. Converte em outro plano. Padre pode ser entendido como: padre, filósofo, professor, cristão, coach, psicólogo, psicanalista, pastor, sermão, pai, mãe, razão.
O artista que vive afastado da sociedade é um porco.
Dito isto: foda-se a arte. Dance!
A violência das palavras aqui tem potência. Gostei principalmente do "O Dentro é o Fora" - dialética que expõe bem a contradição da arte contemporânea que tenta escapar do sistema enquanto é engolida por ele. As provocações são necessárias num meio editorial cada vez mais domesticado.