Ilustração de Jr Korpa no Unsplash
Eu fiz de mim mesmo um romance que pode ser sempre revisitado em suas sombras e claridades. Na imperfeição e na perfeição onde posso dançar escrevendo sempre, há um tempo para cada voltagem e rodagem dos meus pensamentos. Reformulo um antigo poema, introduzo um novo texto, aqui neste pergaminho guardado há muito tempo no Google Docs. Um osso de um blog morto no Blogger, mas que se reforma atemporal conforme a minha direção em quase nunca assinar com uma data o que eu escrevo. Quase sempre, eu estou em um transe, adormecido, quando a Escrita me possui…
Eu não a possuo, é Ela, A Escrita, que toma forma diante de mim, me fazendo visitas sempre. Agora mesmo, ela toma a forma daquela que sempre está saindo direto dos meus sonhos poéticos. Sentada no chão, ao lado do sofá vermelho onde estou deitado, ela toma um chá de maçã verde e fica me observando atirar aqui nestas letras o que deixo agora ficar fluindo. Não sou muito de sair, mas quando saio sinto essa senhora comigo quando passo por calçadas, vou ao supermercado, ao cinema, ao Centro Cultural Banco do Brasil…
No CCBB sempre a encontro, ela está nas paredes e nas peças expostas. Ela é a própria Arte, clara, escura, quente, fria… Seus Nomes comigo são Escrita, Esboço, uma Deusa aqui, uma Deusa ali, uma Deusa lá… Uma Mutante, enfim, ancorada no meu cangote e pressionando a minha glândula pineal para que eu sempre fique naquele transe… E com ela transe bastante a cada escrito que sai de mim como um terremoto, um maremoto, uma erupção e um tsunami.
É com Ela que estão sempre as minhas lembranças. E uma lembrança em especial que muito me afeta e alerta para estados mais sutis de minha alma.
A lembrança que carrego comigo nas ruas…
A lembrança que carrego em mim a cada calçada…
A lembrança que se prolonga em mim nos shoppings…
A lembrança que se tritura em mim no alto de uma passarela…
Longo é o tempo no qual a sombra dessa lembrança me afeta aqui. Aqui, dentro de mim, um profundíssimo espaço vazio sempre sendo preenchido. Aqui, no meu coração que arranco e deixo depositado na única mesa que tenho. Aqui, nos meus pulmões, que respiram um denso ar com senso de intimidade comigo. Leoas aqui rugiram. Panteras aqui rugiram. Deusas aqui residiram. Musas, enfim, que aqui ficam. Amores aqui residem ecoando entre bits, bytes, códigos binários e o acaso virtual de seguidores e visitantes aqui a naufragarem. Eu sou uma espécie de Rede Social ambulante, sabendo de tudo um pouco dos Humanos e Desumanos Romances. Romances que evocam a Caravaggio, ao Chiaroscuro, ao Luminoso e ao Escuro fora das humanas definições que sempre caminham para um absurdo. Absurdo é ainda poeticamente romantizar neste contemporâneo mundo supostamente civilizado e tecnologicamente cada vez mais sendo friamente esvaziado. Mas, como Poeta no claro e no escuro, no dia e na noite, na sala iluminada e no quarto escuro, vou seguindo adiante neste Arcano Dos Amantes de um Tarot jogado entre as Luzes e as Trevas...
E
para mais
uma Leoa,
uma Pantera,
uma Deusa,
enfim,
Musa distante,
eu romantizo
em manhã fria,
em tarde fria,
em noite fria.
Não procuro
a tolice da riqueza,
a romântica poesia
é obra para poucos
que n'alma possuem
o encanto que fez
Paolo amar
Francesca
e Dante amar
Beatrice.
Tolo é o artista
em busca de glória,
de reconhecimento,
de fama,
de um ave,
de um salve,
de palmas
e de dinheiro,
dourados bezerros
efêmeros.
Todo romântico
artista
na luz
e na sombra,
embarca em um
barco que navega
por rios que correm
para dentro,
não
para fora.
Todo romântico
poeta
é um estranho,
um deslocado
e um indiferente
para os louros
do sucesso
que apenas cega,
mata
e ao talento apaga.
Todo romântico
poeta
é um consorte,
bêbado
e em transe,
de uma Poesia
na Deusa Poesia
que,
mesmo hoje,
nunca morre.
Todo romântico
poeta,
no dia mais
escuro
ou na noite mais
clara,
nunca deixa
de lado
o que carrega
em uma cópia
da sacolinha do Louco
no coração,
na mente,
no corpo
e n'alma.
Mesmo sufocado,
todo romântico
poeta
é um sobrevivente.
Mesmo nada ou nunca
lido,
todo romântico
poeta
é um forte.
Mesmo ridicularizado
ou posto de lado,
todo romântico
poeta
é um nobre.
E mesmo que
Monica Bellucci,
Monifa Jansen,
Jada Stevens,
Inna Mykytas,
Victoria Borodinova
ou qualquer outra
Romantizada Musa
nos meus Romances
nunca saibam,
este romântico
inominável
poeta
aqui
continuará a
romantizá-las.
Seja na luz.
Seja na sombra.
No Chiaroscuro que me ama.
Inominável Ser
REVISITANDO
A SI MESMO
NO MAIS
ROMÂNTICO
CHIAROSCURO
Revisitar é sempre provar um pouco de sanidade e de loucura. Gosto de andar sob o sol quentíssimo de 40º C aqui do Rio de Janeiro e sob as poucas estrelas que à noite ainda podem ser vistas no firmamento. Gosto da minha casa bem escura e a maior parte da luz chega até ela durante o dia. Gosto muito do que tem na claridade e no escuro, observo muito disso quando sou obrigado a sair na rua. Eu sou quase um Hikikomori, mas para estudar e trabalhar e fazer compras e pagar contas sou obrigado a sair de meu sarcófago.
Mas, o dia a dia seria pior sem a companhia de quem traz muita Luz e muita Treva para dentro de mim, das minhas letras e da minha interna música:
Aquela senhora.
Aquela senhora bebendo um chá de maçã verde aqui ao meu lado, com certa frequência, me visita cada vez mais a cada dia. Tudo que leio, que escrevo e que estudo faço junto com Ela, uma pessoa da névoa que existe na minha mente poética que pode até possuir certo grau de desatino ou desligamento para com a realidade…
Mas, quem você aí conhece que esteja 100% dentro da nossa cotidiana realidade?
Giovani Coelho de Souza
O Inominável Ser
13 de setembro de 2024
11:28 h