TRECHO I
No engendramento varável, o pus se opõe ao são. Começo a desejar sangue. Estou alocado na minha cama observado um raio de sol entrando ao desviar da cortina semifechada. A fumaça do cigarro dança em espirais simples. É hipnotizante, é tremendo! Calafrios me dão nos nervos, suor me causa tontura, simples fato repugnante se instala na sala: a fumaça me observa tanto quanto eu a percebo? Há um furo na minha cabeça. Atravessa o crânio e acaba no travesseiro. É a divina sombra de desejo. Imagino mil cenas pervertidas; dentre elas, a mais óbvia: consiste em estrangular o outro, decepar sua cabeça e usar o buraco no tronco como vagina. Meus dentes estão suplicando algo. Quero morrir, terrível, possuir, desistir e fazer. Não há causa para os pecados assistidos. Grito, num pulo quase que suicida: A ARTE DAQUI ESTÁ MORTA! A ocupação de espaço por parte dos insalubres sorridentes não acontece. É causa em universidade celibatária: estender lindos panos em paredes lindas, bem estudadas e geométricas.
TRECHO II
Me dou conta da cama, me dou conta que não há mais lógica no discurso hipócrita do senhor-super-revolucionário do normal. Normal é aquele que pisa descalço na água. A prateleira está intacta, a parede é igual. Onde despejarei meus dizeres?
Não me aguento. Arranco meu braço com a boca, choro berrando ao som do meu ouvido estourado, lacrimejo e sinto o mar com grandes fazes no entorno. Abro a torneira - pinga, pinga, pinga. Sumo. Desenvolvo coragem, arregaço as pernas, tiro a pele fina, arranco os tendões do cérebro, viro uma poça de sangue, merda e urina. Clamo ao sagrado. Sorrio alegremente enquanto espero a alma do desvalido. Cresce em mim uma orgia em segredo — grande segredo, pequeno tempo. Espaço curto. Viro página a página, jogo o martelo na minha cabeça, arranco o dente a dentadas, tiro de mim um cadáver. Pronto! Era tudo o que eu queria: foder. Meus dedos finos, magros, entram no ânus do defunto. Grande solução! Estou completo. Adeusão.
TRECHO III
Penso agora: de onde vem a vontade, a necessidade de achar motivo de internamento? Marginalização acontece o tempo todo — jogar o indivíduo à margem, o considerando louco. Acontece agora. Lembro-me bem da fatídica manhã onde, sem outras palavras e assuntos anteriores, fui ameaçado a ser internado em uma casa. Juvenus, cisto, futebol e ‘bolinha de pescar’. A maneira como é maleada a virtude do outro é nítida. Sem conceitos nem ideias, somente o soco, o tapa, o ponto frágil. É de tanto beber sangue?
Me lembrou Slyer \m/