Filme Letra A — de Atropelado
Morri ontem, vítima de um atropelamento por um caminhão. Esmagou minha cabeça, explodiu. Pedaços-vários-pedaços voaram por toda a rua. Inevitavelmente as idosas se assustaram — a ponto de cinco, ao menos, terem sofrido ataque-cardíaco só de terem presenciado a cena. Exagero. As crianças ficaram em volta, curiosas. Lambiam os dedos e perguntavam a seus pais o que era aquele líquido vermelho grosso — caldo de cereja, mamãe?
Acordei hoje, vítima de um pesadelo brusco e cruel. Me despertou os olhos sem medida, me fazendo dar um salto da cama. Pedaços-vários-pedaços de cobertas voaram por todo o quarto. Tive que levantar catar um-a-um. O desmembramento do sono foi tanto que, até meu cachorro, Carioca, se assustou e deu um corridão até o pé da cama. Nosso estado de confissão noturna havia sido despertado.
Sumi amanhã, vítima de um fechar de olhos fatal. Eu não me encontrava de modo algum. Procurei por baixo de trens, vielas, folhas, grampos, livros, discos, poeira e, até mesmo, de náuseas mecânicas. Tal sumiço foi tão grande, tão abrupto, que ninguém sentiu falta — a não ser eu. Queria realmente me encontrar e morrer ontem, mas não conseguia. O hoje, do pulo da cama, já me era suspeito — queria o repasse contínuo. Não conseguia formular ideias de onde eu poderia estar. Continuei a procurar. Fui até a rua do atropelamento, lá estavam as minhas vísceras e a polícia local. A cena foi tão dura pra mim que, rapidamente, lógico, sofri um ataque-cardíaco.
O cachorro se deu segunda-feira. Existiu pelo simples fato de ser, mas não era. Era eu. Corri até o pé da cama, por conta do pulo duplo do meu dono. Lambi as bolas e continuei à procura do sono — lindo e bom sono. Me afastei por um momento do cachorro, do homem, das idosas, crianças e do caminhão. Eu era a câmera. Andava livremente pela cidade misteriosa. Foquei em uma vagabunda. Seu rabo empinado até a calcinha na nuca. Cheirei seu traseiro, virei no impacto e vi a plateia a gargalhar. ‘’Veem só?!’’ — eu insisti. Mas não muito, deu um minuto e tornei a passar os créditos finais.
O Morto Caminhão — Por Luan Hornich
Ficha Técnica:
O Morto…………………………………………………….Ele mesmo
O Caminhão……………………………………………….Ele mesmo
As idosas……………………………………………………?
O Cachorro…………………………………………………Ele mesmo
Roteiro………………………………………………………Ele mesmo
O Perdido…………………………………………………Ele mesmo
Câmera……………………………………………………Ele mesmo
A Vagabunda…………………………………………….Ele mesmo
O Filme…………………………………………………..Ele mesmo
Agradecimentos especiais:
J.C
B.B
2025, Jun. Luan Hornich.
[fim do primeiro roteiro]