Um sol para cada um de nós. A avenida se estendia até a praia sem nenhuma sombra no caminho, com exceção daquela a qual não conseguiria me desvencilhar nem se quisesse. Os carros se prostram em fila indiana, apressados, mas estáticos esperando o sinal abrir caminho e as buzinas soem cada vez mais distantes.
Quando comecei as caminhadas pela manhã, havia o medo de ser reconhecido e tratado como idiota, pensava que seria ridículo ser visto correndo debaixo do sol das onze horas com o único propósito de evitar pensar em tentativas de atravessar a última rua da cidade e virar a esquina.
Sendo sincero agora entre nós, não sou nenhum bom ator ou coisa do gênero, posso até ser bom em inventar pequenas ficções, mas na maioria das vezes estou tentando fugir do meu próprio ego que permanece pedindo espaço para suas sujeiras e canalhices. (Você entenderá.)
Venho catalogando cada uma desses pensamentos já há algum tempo, não me surpreendo com as cartas românticas, nem com a quantidade inexplicável de tickets de estacionamento nos bolsos das minhas calças, mesmo as notas fiscais recebidas no meu e-mail sob o pretexto de profissional autônomo.
Só que, olhe só, moro com meus tios, não tenho nenhuma referência verdadeira sobre amor se não de casamentos falidos, e muito menos tenho tempo para sujar meu nome como MEI!
Pois é, por isso prefiro me ater ao ridículo ato das caminhadas matinais, marchas em direção a novos ares. O cheiro de café pela manhã, minhas dores sumiram com o tempo, outras dores tomam conta, mas pelo menos são novas.
Eventos de curta duração
Precisei encurtar um pouco a escrita nesses últimos tempos, isso tem muito mais haver com minhas prioridades do que qualquer outra coisa. Uma boa parte de mim quer mandar o mundo se foder e enfiar a minha cabeça no chão como um avestruz, mas eu também me divirto na mesma intensidade que sofro.
Tenho que planejar até como vou ser ocioso! Não vou passar o resto do texto reclamando sobre isso, mas queria saber a opinião de vocês sobre isso. E se você não me conheceu ainda leia aqui.
Pois bem, antes de me despedir vou deixar alguns versos que escrevi nas últimas semanas e espero aparecer aqui com mais alguma nova história para contar.
voltando pra casa
é o ônibus que vem
e a fomeatravessamos a rua
e o sol
nos atravessa
íntimo
já me basta o cigarro
comedido
fatal
Basta, muitas vezes, uma simplicidade notável desta forma para que a vida possa ser suportada de um modo extremamente leve.
Ardiloso.