Sob o pseudônimo de Pierre Angélique, Georges Bataille lança, com base na recomendação de seu psicanalista, o texto Madame Edwarda (Relacionado, certamente, com ‘História Do Olho’ e ‘O Morto’). Determinado em poucas páginas, é nos apresentado a figura de Edwarda; puta, ausente com sua figura divina. Segue o tema desenvolvido próximo ao final do conto — a impossibilidade.
Os devaneios de Edwarda, em causa, deslumbram o flerte com a ausência e a impossibilidade da ação — realizada como se fosse alucinação, fantasia erótica e perda dos limites. Arreganhando as pernas, mostrando seus trapos, em crucial ao limite da noite atingida (entre Saint-Denis), a nudez exposta em frente a carne, pela ação do impossível, o privilégio da morte, sua participação com Deus e sua podridão. A causa de ausência entre as ruas, convocando o espírito imaginativo, cru e delirante. Posto à capa, máscara, se crucificando como porco em ato de agressão pós-tentativa da morte impossível. O empenho do narrador, justificado à sua embriaguez e causa pacífica — hora cristalizada em fábrica de apego, hora dando em sacrifício seus limites (excesso) ao corpo erótico de Edwarda — experimenta o apego com o flerte da morte, a vontade de ser entregue; o impuro. Quando esses limites são avançados e assassinados, erguem-se campos de perda do indivíduo, concluindo o cadáver presente — como arrepio, frio, suor, sexo reto. A máscara é o charme do erótico, o desejo, a vontade; o não-saber acolhido pela falta de comunicação — desnecessária. É a puta, Deus, se assim for.
‘’Minha vida só tem sentido se eu não o tiver, se eu for louco: entenda quem puder, entenda quem estiver morrendo…’’
Em relação ao chofer, é justamente a realização dessa impossibilidade nua em frente ao inverso, ao oposto e ao sacrifício pós-fantasia — ainda que haja. Seria o fim do mundo — do mundo particular, do mundo moral, do mundo restante — todo esse ápice de vontade de completar-se ao outro, ao limite, ao dispêndio oferecido pelo outro. Aliás, ótimo tema: se concluir no dispêndio do outro como morte ou como Deus, assim como o narrador chama Edwarda em certas passagens — ou ela mesma se afirma. É o sacrifício a base da neutralidade dos seios, do pau, do ânus, da vagina — trapos. O Absurdo é parido nessa ausência de possibilidades, que permanece o impossível, o ato de perder, de rir em meio à noite, escondendo-se por uma máscara e capa preta. É este riso que te aproxima do exótico, o absurdo (ou manhã). A espera da morte, do outro indivíduo. Se Edwarda é Deus, ela pode me matar em um ato de êxtase, endossando, em suas pernas, o orgasmo, minha porra, seu suco.
No começo achei difícil de entender, mas aos poucos fui pegando o ritmo e achei muito interessante como você mistura loucura, desejo e esse tom quase místico. Curioso e provocador