Petit-Pavé-Orgânico-Segurante
Calma, almirante! Calma! Ainda preciso enfiar meus dois dedos no seu cu — dizia.
Fato é que, a cena, antes disso, foi:
A moça andava de um jeito específico, como se pulasse entre os vermes do chão — o chão que, por medida, olhava fixamente para o ponto alto da cabeça da moça. Em determinado ponto do trajeto da guria, ela se deu ao chão — caiu, torceu o pé. Nos minutos em que ficou atirada, uma série de jornalistas se aproximaram ante seu corpo-pós-programático. As perguntas variavam de — que gosto tem o chão? / já teve câncer de colo? / quantos anos? / advogada? / filhos? / viu o andaime do outro lado da rua? / assassinaste tua mãe? / seu marido anda com um plug anal? / paga quanto a diária? / analfabeta? / o que acha da Valsa 6, de Nelson? — e outras mais. A única pergunta que meio veio à cabeça, de fato, era se aquele tombo foi ensaiado ou natural. Vai ver atuava em teatro, não sei. Certamente fiz o mesmo que ela: caí — de propósito, mas sem ensaio — no chão. Caí bem do lado dela. Seu rosto parecia ter convulsionado uma fratura. Pensei: meu rosto está sem nada, limpo, pois a queda foi falsa. Segue. Ali, sem ninguém ver, me dei uns tapas fortes. Imprensa! Imprensa! Me olhem aqui! — gritei com um semblante de dor. Se aproximaram e fizeram uma só pergunta: caiu de propósito? Pronto. Eles perceberam. Que fracasso. Me levantei, limpei a mão na roupa e saí andando como quem pula entre os vermes do chão.
Não deu 700m e caí, me dei ao chão, torci o pé. A menina, detrás, levantou e veio correndo até mim. Disse: fique assim, empinadinho, tens uma boa bunda para deixar à mostra no chão, aos outros. Os jornalistas chegaram e apalparam minhas nádegas para confirmar a indicação da guria pós-queda. Me veio um tesão! Nunca ninguém tinha apertado minha bunda. Rocei o pau duro no chão, fingindo estar tendo lapsos-corporais-pós-queda. Fato é que, a garota-pós-queda se sentiu incomodada, ficou com inveja. Andou um tanto e fingiu cair no chão — agora sim: encenação. Dei risada com o rosto virado cheirando aquele petit-pavé-orgânico-segurante.
Calma, senhores! — gritou um homem pela janela — não estão percebendo que a moça caiu ali na frente? Está bem empinadinha — terminou.
Para minha surpresa, os jornalistas não foram até ela, pelo contrário, permaneceram em mim. Abaixaram minha calça, viram minha bunda empinada e, em fileira, um a um, foram lambendo meu cu.
Ouvi o braço-tanto
seria fruto imaginativo
mas a pegada do cachorro atiçou meus sentidos
senti aquela queda como se fosse meu intestino
‘’Sou poeta!’’ — ouvi
e meus lábios tremeram de nervosismo.
A rima não me interessa
tão somente a vida
dada
onde quer que eu a encontre:
no cu de sua mãe
ou no cu do almirante.
Fim.