Pipoca🍿na manteiga😋 #12

Quando o amor sufoca: Relações tóxicas, dependência afetiva e o "não consigo largar..."

Quer dizer amor, mas no fundo é prisão. O amor que sufoca não é amor, é sintoma.

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Não raro escuto em consultório histórias de relações que começam como conto de fadas e logo se transformam em sufoco. A promessa de cuidado se converte em vigilância, o “eu te amo” em “você é meu”. É aqui que a psicanálise nos ajuda a pensar: onde está o desejo e onde começa o gozo destrutivo?

Lacan já dizia que o amor é dar o que não se tem a alguém que não é. Mas nas relações narcísicas esse movimento falha. Essas relações são marcadas pelo egocentrismo e falta de empatia de uma das partes, que vê o outro como um meio para satisfazer suas próprias necessidades de admiração e atenção. O que se busca não é o outro em sua alteridade, mas um espelho que devolva admiração, obediência e completude. O resultado é a anulação subjetiva: um aprisionamento travestido de paixão.

A dependência afetiva é o outro lado da moeda. Quem se submete, muitas vezes, acredita que sem o parceiro não há vida possível. As redes sociais ajudam a perpetuar essa dinâmica, com frases prontas e imagens romantizadas que confundem amor com controle. Na prática, o que se instala é o medo da perda, que vira justificativa para aceitar humilhações.

Este é o Pipoca🍿na manteiga😋, nossa news semanal onde você entra assiste a várias estreias e espetáculos com um bilhete só: literatura, psicanálise, cinema, arte e cultura com sabor de sexta-feira. Nosso convite é simples: senta aqui com a gente (ou leia em pé busão , correndo no parque, com café na mão), porque o filme da vida ainda tá passando. Aqui você encontra 🎭 Literatura 🎬 Cinema 🧠 Psicanálise (sim, eu amo usar emogis) entrelaçadas no nosso cotidiano.

Carmen de Oliveira Alves, estudante trans da UNESP, foi assassinada. O namorado de Carmen, Marcos Yuri Amorim, foi preso por suspeita de matá-la para não assumir publicamente o relacionamento. O crime foi motivado, segundo a polícia, por pressão crescente para que Marcos “tornasse público” que namorava Carmen, que era uma pessoa trans. Investigadores apontam que Carmen havia montado um “dossiê” sobre Marcos, com supostos crimes, que poderia expô-lo, caso ele não assumisse o namoro. (UOL Notícias). Este caso expõe como a dependência emocional, o medo da exposição e o controle podem levar a uma violência extrema. A vítima pede reconhecimento; o agressor responde com eliminação. A frase “assumir ou matar” torna-se dramatização literal de uma lógica de dominação emocional.

Vanessa Ricarte, jornalista assassinada pelo ex-noivo. Vanessa foi morta a facadas pelo ex-noivo, após ela tentar romper um ciclo de violência psicológica, cárcere privado e agressão. Ele estava emocionalmente dependente dela, coagindo-a, controlando-a, mantendo-a num laço em que ela sentia dificuldade de sair, mesmo reconhecendo o perigo (Campo Grande News). Este caso é exemplar de como a dependência afetiva não é só sentimentalismo: é risco que cresce, repetição de abuso verbal, isolamento e, muitas vezes, silenciamento da vítima até que a tragédia ocorra. O querer acabar, embora presente, encontra barreiras psíquicas, econômicas ou sociais que às vezes parecem intransponíveis.

Esses dois episódios são dolorosos, mas essenciais para pensar na saúde mental em profundidade: o “eu não consigo largar” carrega culpa, medo, vergonha e também falta de estrutura de apoio — psicológico, social, legal. Em ambos os casos, a psicopatologia da dependência afetiva não estava isolada: envolvia opressão, honras machistas, transfobia, expectativas sociais.

Eles nos lembram que viver numa relação abusiva não é fraqueza individual, mas sintoma de uma cultura que muitas vezes naturaliza o controle. E que a libertação, apesar de lenta e perigosa, é um direito da psique.