Pipoca🍿na manteiga #19
Entre a análise e a crítica literária: o prazer (e o risco) de forçar a interpretação demais. O perigo de achar que toda metáfora é profunda e que toda cena é intencional: não seja insuportável!
Às vezes me pego rindo sozinho quando percebo a ginástica mental que faço para interpretar certas coisas. Tem dias em que estou tão mergulhado na análise clínica, textual, cinematográfica que tudo parece sinal, sintoma, metáfora, deslocamento. Olho para um personagem irritado e penso “isso é gozo”. Vejo uma imagem desfocada num filme e já quero escrever sete páginas sobre o não-dito. Leio um poema e, antes de sentir, já estou tentando decifrar.
Entre a crítica literária e a psicanálise existe uma linha fina, quase invisível, que separa a leitura sensível da leitura paranoica. E eu, que vivo entre livros, consultório e telas de cinema, sei bem como é fácil escorregar de um lado para o outro. Interpretar dá prazer, não nego, porque interpretar é criar sentido onde antes havia apenas movimento, gesto, silêncio. É dar nome ao que pulsa. Mas interpretar demais também pode ser um jeito elegante de fugir do próprio sentir. Uma defesa sofisticada, travestida de erudição.
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