Esta é a Carta 7 de uma série de correspondências entre escritores que chamamos carinhosamente de Trocando Farpas: Nós da Impérios Sagrados escrevemos a Carta 1 e Carta 7. Fabio Pires escreveu a carta 2 e a 8. O Inominável Ser escreveu a carta 3 e a 9. O Samir Cooper escreveu a carta 4 e escreverá a 10. O Ruan Giollo Brugnerotto escreveu a carta 5 e escreverá a 11. Leonardo E Dutra escreveu a carta 6 e também escreverá a 12.
Qual a periodicidade dos posts das cartas? A cada 4 dias!
A pergunta que não quer calar é: Pode a literatura falar de política sem se sujar?
Os links serão adicionados à medida que as cartas forem publicadas:
Eu realmente espero que não tenhamos complacência uns com os outros nas cartas do Trocando Farpas e que entendamos a crítica como algo sadio. Ou seja, não se acanhem em meter a boca (ui) ou as palavras aqui! Como assim disse o
“E fazendo jus ao nome dado a estas cartas, já adianto que discordo em alguns pontos do texto anterior, digo isso porque acredito que até para criticarmos algo é necessário conhecer o alvo da crítica.”
Na carta 1, dissemos que não se deveria ler, por exemplo, Olavo de Carvalho (eca!) e mantemos nossa posição. E só dissemos isso, após lermos o dito cujo. É muito mais um conselho de “não perca tempo com aquela merda toda” do que “não leia para não se sujar”. Ao passo que achamos a crítica da carta 6 do
pertinente por demais a fazer uma denúncia do racismo, por exemplo.
Existe um princípio básico que funciona como algo norteador em minha vida; uma pergunta que ouvi há muitos anos e que ecoa muito forte em tudo o que eu faço até hoje: Que legado você quer deixar em sua vida?
E talvez, mais do que nunca, essa carta diga respeito justamente a isso: A literatura tem algo a dizer sobre a política. Não que precise, sempre, falar algo político. Poemas, romances, contos, crônicas não possuem, necessariamente, que se posicionar sobre assuntos que digam respeito ao convívio em comunidade. Podemos apenas literariar (ser editor tem seus benefícios de inventar palavras rsrrs), sem qualquer tipo de ensejo político e apenas descrever a sensação de observar um belíssimo entardecer. Mas, obviamente, não podemos fechar os olhos para o que acontece à nossa volta.
E aí que a porca torce o rabo e o boi se vai coas corda e tudo. Pois, na era do digital e vivendo a época em que ser Influencer (do que em nome de jeová???) é ser diplomado na faculdade de não fazer nada e saber coisa nenhuma e ainda sim ganhar dinheiro mostrando idiotices, a literatura tenta de alguma forma sobreviver. Certo, alfinetadas à parte, vamos definir de que literatura estamos falando aqui.
Não. Qualquer coisa escrita não é literatura. Ou seja, não é porque eu escrevi algumas linhas ou um livro que pode ser considerado literatura. Dizem que “os textos literários são aqueles que possuem função estética, destinam-se ao entretenimento, ao belo, à arte, à ficção”, mas eu digo mais: um texto literário, mesmo após o perspectivismo (em que tudo é arte, acaba sendo arte), agrega algo de valoração estética e de fruição psicológica. Ele muda algo, traz esse algo para discussão que não é capaz de ser fechado em si mesmo. Dizem que algumas das características da literatura são:
Proporcionar entretenimento. Promover educação. Estimular a imaginação e criatividade. Fomentar a reflexão sobre a realidade. Formação de identidade. Desenvolvimento da empatia. Preservação cultural e histórica. Desenvolvimento da linguagem (link).
E, ao nosso ver, acima de tudo provocar algo no leitor. Sim. Provocar: riso, lágrimas, ódio, raiva, amor, paixão mas jamais espalhar mentira e desinformação. Mas qual o contexto do que eu estou falando? Não podemos, por exemplo, considerar livros de autoajuda ou sobre “como vencer na vida em 10 dias” como literatura.
A literatura brasileira contemporânea tem se debruçado sobre si própria, problematizando as fronteiras, cruzamentos e interseções que estabelece com outras linguagens, potencializando novas estratégias narrativas, lançando olhares provocativos para a tradição. “Cada novo contexto histórico literário traz consigo novas expectativas em relação ao texto literário e, portanto, novos critérios de valoração” (link)
Por exemplo, o livro Dom Casmurro de Machado de Assis. “A obra é recheada de digressões sobre técnicas narrativas, jogos de palavras e a relação íntima entre autor e leitor, tornando “Dom Casmurro” um estudo fascinante sobre a literatura em si. “Dom Casmurro” é uma “obra aberta”, rica em interpretações e interações emocionais e imaginativas (link)”. E o que temos visto é, em sua maioria, livros como “Sutil Arte de Ligar o F*da-Se: Uma estratégia inusitada para uma vida melhor” como fenômenos de vendas. Fenômeno de vendas para quem? É essa a questão, mas esse ponto vou deixar em aberto, afinal, é muito mais uma reflexão.
E aí, quando falamos de literatura, nos perguntamos, por exemplo, sobre o que está sendo escrito sobre a pandemia do COVID-19? O que deixaremos registrado para as novas gerações? Talvez eu não possa ser tão gentil, leve e branda como o
na Carta 5. Ao passo que refletimos com ele quando afirma que “Penso que é preciso empoeirar-se para construir um castelo com as próprias mãos, ainda mais quando são muitas mãos juntas no mesmo objetivo. A dificuldade está, creio, quando uma mão coloca um tijolo e a outra derruba o muro”. Penso que a literatura é, também, um derrubar de conceitos e um questionamento.
E nesse contexto falamos sobre política quando olhamos para romances, contos, poesias sendo produzidos e que ignoram, por exemplo, o genocídio sistematizado pelo aparato estatal do (des)governo do ex-presidente Jair M. Bolsonaro (dá asco de escrever esse nome). Quando iniciamos o Trocando Farpas era mirando, por exemplo, em discussões como essa. E que o
que afirma que “a que política nos referimos nestas cartas? Creio, em minha humilde opinião, que é imprescindível fazer uma distinção entre política e politicagem. A primeira diz respeito ao esforço individual e coletivo para que uma sociedade prospere em todos os sentidos”, é crucial para nossa compreensão do que entendemos por política.
Temos vários pontos de contato e concordância com o
em sua Carta 3. “Não vejo qualquer mal em panfletar quando se tem o bom senso de não defender a morte ou o espancamento de um desafeto pessoal ou político; o linchamento virtual ou físico (até a morte neste caso) de um membro da Comunidade LGBTQIA+; o Bullying e a perseguição contra quem pensa de modo diferente, seja de qual Espectro Político for; a divulgação de Fake News que podem prejudicar desde pessoas simples a Órgãos Institucionais e Empresas; a Misoginia que somente fortalece e incentiva as altas taxas de Feminicídios; o Racismo, aberto ou velado, gritado ou insinuado, que visa a diminuir as etnias que não seguem o “padrão” dentro de uma Sociedade ainda Colonialista, em muitos sentidos, como a nossa; e todo tipo de crime que hoje não está restrito apenas aos macabros Abismos da Dark Web.”
Dito isso, pode a literatura falar de política sem se sujar? Pode. Sim. Claro, mas somente quando ela evoca, até mesmo por meio do realismo mágico, a realidade que vivemos e reflete sobre ela . Em O riso dos ratos de Joca Reiners Terron, O último gozo do mundo, de Bernardo Carvalho, em A extinção das abelhas, de Natália Borges Polesso e, também, Daniel Galera em O deus das avencas. Ou exemplos de realismo mágico como Gabriel Garcia Márquez. Ou, ainda, autoras consagradas como Jodi Picoult, Margaret Atwood. O fato é que é possível a literatura refletir sobre a política. Mas o que seria esse “se sujar”?
Vamos a algo prático: Quem aqui acredita que a terra é plana e que a extrema-direita, por exemplo com as privatizações, quer o bem do povo? Quem aqui acredita que o COVID-19 se fosse “melhor” espalhado faria com que o povo ficasse imune? Quem aqui, AINDA, acredita que Jair Bolsonaro tinha alguma proposta de governo para o Brasil? Que ele valorizou a cultura? Que deu mais saúde para a população? Basta! Até eu cansei….
Agora você que está lendo essa Carta, imagine que metade de um país que votou nesse genocida e que certamente possui escritoras e escritores, leva para a literatura justamente a concepção de mundo acima, em que o genocida é celebrado como mito? Isso, sim, é literatura SUJA! Da pior espécie possível como, por exemplo, os livros de Olavo de Carvalho e sua seita.
“Ah, e sobre a imagem do Lula que aparece na imagem do post?” Então, será que podemos afirmar que, no atual panorama do Brasil ele seria a escolha mais aceitável? Ou será que irão olhar para este post e considerar algo COMUNISTA? Rsrsrs E quais livros literários refletem sobre essa questão? Pois, como dissemos acima, a literatura não é fechada em si mesma. Ela reflete!
Então, agora ficou mais claro o que é se sujar na política escrevendo literatura?
Obs: espero, em nome da IS, que bolsonaristas virem apenas uma pálida lembrança nas páginas dos livros desse país, sendo reconhecidos e reconhecidas como:
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Fazendo Eco com o nome desta Série, Trocando Farpas, discurso da parte que sugere que qualquer coisa escrita não seja Literatura. Se são as emoções o que gera a Escrita de qualquer obra, estas tem sim um sentido para quem as escreveu e para quem vai adquiri-las. Indo por esse caminho, até mesmo não podemos defender a queima de livros defensores de Ideologias extremas, como o Mein Kampf de Adolf Hitler ou qualquer panfleto reacionário que a Extrema-Direita publique aquí no Brasil ou em suas células pelo mundo. Por mais que não queiramos e aceitemos, trata-se de uma Literatura, positiva para eles e negativa para nós e muitas outras pessoas. Transmissões de ideias erradas precisam ser combatidas, sim, e o processo de sujar-se faz muito bem parte do Bélico Jogo De Assassinatos E Extinções que mencionei na minha Carta. É até bom sujar-se para saber limpar-se, cada vez mais, de um modo melhor em diversos sentidos.
Você nos trouxe uma definição muito concisa do que é Política, e seria muito bom que isso estivesse no sangue da maioria das pessoas. Porém o que nos é apresentado quanto sociedade, é a regra do jogo sendo aplicada a politicagem.
O capitulo V - DOS PARTIDOS POLÍTICOS- da Constituição Federal, nos traz as definições de parte das regras. A lei LEI Nº 4.737/65, que instituiu o código eleitoral, nos traz mais regras desse jogo. E tudo bem! Está posto para quem quiser ver. Mas como fazemos para que pessoas se interessarem por política em uma sociedade cansada, desacreditada, com imensos currais eleitorais, pós pandêmica, pós fascista, colonialista e com índices alarmantes de queimadas e descaso do poder público sobre os temas Segurança, Saúde e Educação? *Apenas levantei poeira! Nunca vou me dar por vencido. Não perdemos!
Talvez trazer isso na literatura, de forma alegórica, simples e acessível, seja uma forma inicial de acordar nossas mentes adormecidas e entorpecidas pela realidade cruel (principalmente se for uma novela).
Nos dias atuais grande parte da população leitora, apenas se transformou em consumidor de livro, não leitor.
Compram livros somente para enfeitar a prateleira e fazer um story. Mas se não tem concentração (que não seja patológica) para continuar uma simples leitura que seja maior que o reels, tampouco elaborar argumentos de análise crítica.
Penso que enquanto o cenário for esse, teremos que entrar no terreno fétido e destruído para impedirmos o aparecimento de novos terraplanistas, fascistas, olavistas, pseudocientistas, coaches quânticos. E nessa arena tem muita sujeira. Contudo o banho sempre está disponível para quem quiser.
Fazendo Eco com o nome desta Série, Trocando Farpas, discurso da parte que sugere que qualquer coisa escrita não seja Literatura. Se são as emoções o que gera a Escrita de qualquer obra, estas tem sim um sentido para quem as escreveu e para quem vai adquiri-las. Indo por esse caminho, até mesmo não podemos defender a queima de livros defensores de Ideologias extremas, como o Mein Kampf de Adolf Hitler ou qualquer panfleto reacionário que a Extrema-Direita publique aquí no Brasil ou em suas células pelo mundo. Por mais que não queiramos e aceitemos, trata-se de uma Literatura, positiva para eles e negativa para nós e muitas outras pessoas. Transmissões de ideias erradas precisam ser combatidas, sim, e o processo de sujar-se faz muito bem parte do Bélico Jogo De Assassinatos E Extinções que mencionei na minha Carta. É até bom sujar-se para saber limpar-se, cada vez mais, de um modo melhor em diversos sentidos.
Sem dúvida alguma, é uma carta bem escrita.
Você nos trouxe uma definição muito concisa do que é Política, e seria muito bom que isso estivesse no sangue da maioria das pessoas. Porém o que nos é apresentado quanto sociedade, é a regra do jogo sendo aplicada a politicagem.
O capitulo V - DOS PARTIDOS POLÍTICOS- da Constituição Federal, nos traz as definições de parte das regras. A lei LEI Nº 4.737/65, que instituiu o código eleitoral, nos traz mais regras desse jogo. E tudo bem! Está posto para quem quiser ver. Mas como fazemos para que pessoas se interessarem por política em uma sociedade cansada, desacreditada, com imensos currais eleitorais, pós pandêmica, pós fascista, colonialista e com índices alarmantes de queimadas e descaso do poder público sobre os temas Segurança, Saúde e Educação? *Apenas levantei poeira! Nunca vou me dar por vencido. Não perdemos!
Talvez trazer isso na literatura, de forma alegórica, simples e acessível, seja uma forma inicial de acordar nossas mentes adormecidas e entorpecidas pela realidade cruel (principalmente se for uma novela).
Nos dias atuais grande parte da população leitora, apenas se transformou em consumidor de livro, não leitor.
Compram livros somente para enfeitar a prateleira e fazer um story. Mas se não tem concentração (que não seja patológica) para continuar uma simples leitura que seja maior que o reels, tampouco elaborar argumentos de análise crítica.
Penso que enquanto o cenário for esse, teremos que entrar no terreno fétido e destruído para impedirmos o aparecimento de novos terraplanistas, fascistas, olavistas, pseudocientistas, coaches quânticos. E nessa arena tem muita sujeira. Contudo o banho sempre está disponível para quem quiser.