Sim, tomei distância! O corpo estava… bem, não vou conseguir dizer ao certo agora, mas era uma razoável. Vi tudo.
Cheguei e ele já estava lá, atirado no chão. Sentei num ‘muro’ baixo que dividia a calçada do estacionamento. Apreciei a cena.
As pessoas começaram a chegar e chegar e chegar. Tudo muito rápido. Uma senhora parou do meu lado e disse, quase cochichando, ‘’ele era um ator, né?! Famoso!’’ e foi em direção oposto ao corpo. Permaneci sentado.
Não me lembro bem do rosto dela. O corpo caído me interessava mais. Porém, o que ela disse começaria a fazer sentido. Adiante conto. Vamos por partes.
As pessoas rodearam o corpo. Nenhuma chorava e nem se dispuseram a chamar a ambulância — provavelmente reconheceram o corpo do ator. Havia um fascínio ali. Algo não identificável. Um corpo de uma pessoa conhecida estava, agora ali, exposto à rua, com suas roupas de luxo ferradas no corpo. Um ator lindo, de fato — a roupa o empurrava à beleza, claro.
É. Umas 7 pessoas já assim, rapidamente.
Prossigo.
Pô, acendi o meu cigarro então, na espera de algo ocorrer. Primeiro corpo que vejo. Nunca em velório fui.
Na minha primeira tragada, as pessoas se transformaram em outras.
Começou com um homem que, julgo eu, ser homossexual. Se agachou e passou a mão na coxa no morto — que estava de barriga pra cima. As pessoas estavam todas passivas, observando, como um erotismo hipnotizante.
A mão do homem começou a subir aos poucos, até chegar, de fato, no pau do defunto. A mão permaneceu ali, porém agora, massageando o instrumento do antes, ator.
(Me perguntava seriamente se aquilo não era, DE FATO, uma atuação. Segue.)
Logo uma mulher começou a vasculhar os bolsos do casaco caro — cada um com sua prioridade, evidentemente. O homem continuava massageando o pau, cada vez com mais intensidade.
Um senhor que estava na roda se agachou e tirou, bem de leve, os sapatos do corpo.
Nunca vi um senhor de idade correr tanto. Pegou os sapatos e se arrancou!
Havia uma mulher que, suponho, estar com o filho. Era uma criança que chuto parecer com uns 13 anos.
Não. A criança não chorou.
Sim, a ‘’mãe’’, bem, ela começou a mexer no celular. Pensei estar chamando a ambulância, mas não. Ela somente digitou um tanto e guardou o aparelho. Se agachou à criança, disse alguma coisa. Em seguida, a criança saiu correndo seguindo a rua de baixo — tem um parque naquela rua, creio ter ido pra lá.
Meu cigarro acabou. Taquei a bituca.
É, Marlboro. Vermelho.
Enfim.
Pra não me prolongar, vou acelerar.
Chegaram mais algumas pessoas, inclusive um policial que estava à paisana.
O ‘’massagista’’ abriu o zíper da calça do cadáver e tirou o pau pra fora — estava duro como uma pedra. Dizem que fica né… quando morre. A solução para os idosos broxas: morrer.
Não! O ator parecia ser novo. Uns 30 e tantos anos. Prossegue.
A mulher achou a carteira. Engraçado! Ela jogou fora, nem viu pra onde. Só tacou. Ela estava interessada em outra coisa — pensei. E sim, estava.
Uma linda mulher — parecia uma advogada pela forma com que estava vestida — desabotoou sua camisa, exibindo seus peitos pontudos e cruéis.
Um jovem — parecia ser um estudante do ensino médio — começou a chupar os peitos da linda advogada — apelidei ela assim.
A mão do massageador estava batendo punheta no morto e, inevitavelmente, para ele próprio — já que estava, com a outra mão, dentro da própria calça.
Pronto! Ali havia se instaurado o início de uma orgia — com a participação especial de um morto.
Lembro de ter chegado um padre. Ele começou a chupar os próprios dedos junto ao crucifixo na boca. Estava em êxtase!
Todos lá estavam!
O jovem estudante abaixou as calças e pôs a mulher peituda pra mamar.
Eu, logicamente, não quis me meter. Continuei a observar.
A mãe, que largou a criança, se abaixou e beijou o cadáver com a língua.
Os outros, que não estava atuando de fato, observavam tudo, assim como eu, porém, não pareciam pensar de fato em algo. Estavam submersos na glória dos corpos.
O menino gemia alto; o homem gay delirava — chuto eu que revirava os olhos — ;a mãe beijoqueira beijava o morto com tanta força que parecia estar tendo um orgasmo. O padre estava aparentemente mijado. Os outros observadores estavam em glória com Deus. Em profunda introdução atravessante com o sagrado, com o lindo, com o absurdo. Eu estava indo acender mais um cigarro — pensando na punheta que bateria em casa, relembrando da cena.
Ah sim! O policial! Figura importante. Ele estava olhando os peitos exibicionistas da advogada.
O estudante fez a chupada cessar e se voltou ao defunto. Circulou o corpo, tirou as calças do cadáver e mirou o próprio pau naquele cu gelado. METEU!
(Inclusive, o cu não parecia ser apertado. Esse ator já fez muita coisa! — ou, também, quando morremos, o cu entra em estado de dilaceração. É uma hipótese.)
Estavam em gozo!
Daí em diante, todos, de alguma forma, estupraram o cadáver. Arrancaram todas as roupas, botaram ele em várias posições.
Observei o sangue do morto saindo pela boca, enquanto todos enfiavam algo nele. O sangue virou urina, a urina virou merda, a merda virou vomito! Tiraram tudo de dentro dele. Todos os líquidos possíveis! A rua virou orgia. Não havia mais estado nem moral. Não havia pudor nem ética. Nunca houve! Foi lindo!
Não me aguentei, de fato. Corri pra casa bater punheta. Esqueci de filmar, mas sempre lembrarei daquele dia. O dia que Deus morreu.