Qual a relação da minha estante de livros e o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra?
Ao encarar apenas uma das minhas cinco estantes abarrotadas de livros, uma pergunta me atravessou como um soco: quantas autoras e autores negros realmente estão aqui ou eu já li? E você?
Foram 27 os livros que eu li de escritoras e escritores negros. Sim, apenas 27. Tenho mais de 2.000 livros em casa. Esse número, minúsculo, quase vergonhoso, caiu sobre mim como um espelho incômodo (sou uma pessoa branca). Ele me lembra que o racismo não é um fantasma do passado, nem algo “resolvido” com a abolição, como parte da direita insiste em repetir. O racismo é estrutural, cotidiano, silencioso e, às vezes, está tão naturalizado que se revela justamente nos lugares onde acreditamos ser mais livres: nossos interesses, nossas estantes, nossos hábitos culturais.
O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é uma data dedicada à memória de Zumbi dos Palmares e à luta contra o racismo, formalizado no Brasil em 2011, por meio da Lei nº 12.519.
É aqui que surge a pergunta inevitável: o que a minha estante tem a ver com o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra?
Tudo. Absolutamente tudo. Porque este dia não é apenas sobre memória, é sobre perceber como a desigualdade histórica continua moldando nossas escolhas, gostos e repertórios. Quando a maioria dos livros que lemos é escrita por pessoas brancas, não é coincidência: é reflexo direto da exclusão de autores negros do mercado editorial, das escolas, das vitrines e dos currículos. Minha estante, assim como tantas outras, não é neutra. Ela é um termômetro do quanto ainda precisamos mudar.
É também um convite. Um chamado para virar a chave, ampliar o olhar, abrir espaço não como gesto de caridade, mas de reparação simbólica e de responsabilidade histórica. Ler autoras e autores negros é reconhecer que o Brasil é feito das vozes que tentaram calar, das narrativas que tentaram invisibilizar, das histórias que tentaram arrancar. É um gesto político, estético e ético. É entender que sem elas e eles, nossa estante está incompleta: e nós também estamos.
Por isso, neste Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, deixo não apenas uma reflexão, mas um caminho possível: encher as estantes, as escolas, as salas de aula, os clubes de leitura e os currículos com as vozes negras que sustentam a literatura brasileira há séculos: muitas vezes sem o reconhecimento que merecem.
Algumas autoras, autores e poetas negros do Brasil para incluir, ler e reler:
Literatura Contemporânea e Ficção
Conceição Evaristo – Ponciá Vicêncio, Olhos d’Água
Itamar Vieira Junior – Torto Arado, Salvar o Fogo
Jeferson Tenório – O Avesso da Pele
Cidinha da Silva – Um Exu em Nova York
Lu Ain-Zaila – Disponível para viagem (Ficção especulativa negra)
Ensaio, Pensamento Negro e Estudos Raciais
Djamila Ribeiro – Pequeno Manual Antirracista, O Que é Lugar de Fala?
Lélia Gonzalez – Por um Feminismo Afro-Latino-Americano
Abdias do Nascimento – O Genocídio do Negro Brasileiro
Silvio Almeida – Racismo Estrutural
Poesia
Carolina Maria de Jesus – Quarto de Despejo (diários com força poética essencial)
Solano Trindade – Poemas Antológicos
Ricardo Aleixo – Modelos Vivos
Mel Duarte – Negra Nua Crua
Autobiografia, Memória e Testemunho
Eliana Alves Cruz – Nada Digo de Ti, Que em Ti Não Veja (romance histórico com base documental)
Ferréz – Capão Pecado, Manual Prático do Ódio
Sérgio Vaz – Cooperifa – Antropofagia Periférica
Ficção, Fantasia e Afrocentricidade
Fabrício Capinejar (capítulos sobre relações raciais)
Luiz Antonio Simas – O Corpo Encantado das Ruas (mitologia brasileira, cultura afro-brasileira)
Fábio Kabral – O Caçador Cibernético da Rua 13 (afrofuturismo brasileiro)
Se a sua estante também faz essa pergunta incômoda, ótimo.
Que seja o começo, não o fim, de um movimento de reparação, consciência e transformação.
Afinal, lutar contra o racismo também começa abrindo um livro certo.
Entre entender como ajudar no combate a toda forma de exclusão e discriminação,
Cris
psicanalista que acredita que a escuta deve saber o seu lugar de fala
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