As coisas inomináveis aproximam-se vagarosamente ao pé do ouvido— sim, tenho ciência disto. O sabor desprovido de mistério retorna à manhã, é chuva que molha as folhas de papel na qual estão escritas as páginas de ontem. O que restou? Despencou do hemisfério dos sonhos manchando a memória para sempre, foi como degolar o próprio pescoço. Sou como corpo que cai com a chuva e se espalha intempestivo no oceano.
Triste, profundamente triste. O que sinto não é nomeável, é triste, Divino.
A morte de Schopenhauer por Greto Agrille desgovernado par la nuit et la end dans un verre vá a merda! calé sur la mer, le gun calé sur la tempe bébé j'pourrais pas attendre sob o véu cálido do luar manifesta-se indestrutível única musa da liberdade laisse-moi être ton hôte urge liberdade crível do peito que ruge sublime manifesto intento espírito cruel palafita d'alma és tudo intencional até os falsos profetas perdoam mentiras assim conjuro palavras do inconsciente interno inferno das penas cárcere do pavor os tremores desfaçam terras antes do corpo as águas inundem casas antes dos olhos não farás morada em promessas vazias viste o caminho do horizonte enganar naus maiores que está. Je regarde le ciel brilha uma estrela que não está mais lá se toca-la sumirá pois o desejo lhe roubará tudo que iluminará e onde estava você na escuridão?
Ineficiência programada
por Mônica Barros
A foto impressa na tela trincada
teu sorriso partido ao meio
dedos deslizando por teu corpo
desencadeando a insegurança.
Será que sou bonita o suficiente?
Será que sou interessante o suficiente?
Ficamos congelados em um universo copioso
fajutamente parecido com a vida real,
mas nem de longe é tão completo
tudo é resumido ao artificial.
O vazio articuloso da internet,
suicídios assistidos, é tudo demanda
assusta-me estar no meio disso tudo
sou um bode expiatório assim como todos outros.
Divino por Nicholas Barros Sempre olhamos ao céu, buscando Com olhos atentos, corações ao alto Mãos esticadas desejando, ansiando Por salvação Já minhas janelas da alma, para ti, se voltam Pois não existem portões de prata, ouro ou bronze Que se comparem aos risos de marfim Encontro, na ponta de seus delicados dedos A seda, divinamente tecida Presente ao mundo, entregue a deus aos mortais Pois é em teus detalhes que encontro paraíso Não nas pregações, tão acaloradas Nas vozes que se elevam, gritos da alma Mas nos sussurros, nas conversas Aquelas ditas apenas entre nós Segredos confiados, laços formados Estes, sim, abençoados Pois apenas Deus pode ser testemunha De como sua voz, misturada a brisa Que sussurra em meus ouvidos É para mim sinfonia Não busco salvação em clamores, nem nas multidões Pois, o que aquece minha alma, existe na sua Se perdido, se desorientado, se cansado Eu diria que seus braços são Salvação Teu abraço, se eterno, seria benção De finalmente, paraíso, prometido Encontrado
Pinóquio por Augusto Flores Amargurado, preso em vinhas como uma maldição inconsciente de suas sinas seus batimentos se assemelham ao barulho de um sino as engrenagens rangem batendo entre si Óleo escorrendo das mãos seus movimentos são imprecisos não há calor ou frio nesse corpo apenas um tedioso barulho ecoando no espaço Não há indícios da origem dessa fragmentação apenas pedaços espalhados pelo tempo tal qual pétalas que desabrocharam e morreram em seguida em forma de manifestação pela primavera que nunca chega e o inverno em forma de deserto que adormece a sanidade Se algum dia o boneco encontrar o seu dono Qual será a sua reação? Encontrará algum propósito? Irá condenar o seu inventor e sucumbirá a vingança? Ou quem sabe se desligará dos sentimentos para enfim parar de sofrer?
Cinzas do tempo por Gabriel Trevas Acabou-se o mistério e a magia Resta a atmosfera fria e concreta do real ilusão vazia perdida nas cinzas das horas Guarda a fantasia e a máscara Acabou o carnaval O que resta da vida sem mistério e paixões para perseguir Será que se sentir vivo é correr em círculos para alimentar os delírios infinitos do desejo? Será que a vida é acordar todo dia e aguentar o tédio da cara amassada no espelho Repetir o movimento alienado do trabalho e fumar o mesmo cigarro que nunca vai ser igual ao primeiro? Morrer aos poucos Loucura, lucidez ou armadilha Não me importo se a paixão é a forma mais pura e suja de sair de si mesmo É a forma mais bonita e sadomasoquista que os humanos inventaram de quebrar o ego em pedaços É a forma mais profana, animalesca, desvairada, angelical, amorosa e sagrada de fugir da miséria do real Não me importo Se a vida sem paixão e poesia não basta Se o ser humano é um bicho que adora inventar e insiste em se humanizar e se provar diferente do macaco, da lagartixa e do rato Se nossas entranhas precisam se revirar pra nos dizer que somos fracos e incompletos Se o Eu só existe no encontro com o outro, que não é nosso espelho Se o nosso narcisismo infantil precisa ser quebrado todo dia Todo ano mercúrio fica retrogrado, a lua entra em peixes e o sol em escorpião Nada disso importa Se estamos presos nas necessidades do corpo e alma precisa do gozo para respirar O que seria de nós sem os astros, os búzios e os orixás
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