Exercício de escrita
Olhar para aquilo que observo todos os dias e tentar descrever com os detalhes mais únicos que conseguir:
As hastes frouxas do meu óculos estão sofrendo sob a sombra do meu olhar, noto o medo restrito a ponta dos dedos com o qual retiro do meu rosto para que não seja despedaçado com a força. Através destes olhos castanhos profundos a intensa miopia revisita um mundo recheado de formas abstratas e cores opacas—sinto segurança ao pousar os óculos na mesa pois sei que agora posso respirar o alívio da minha debilidade.
Não enxergo com clareza a minha vida inteira, e nem tudo que vi através destas outras lentes queria ter visto.
Plumas
por Maria FalcãoVejo em teus olhos
esperança, vontade
mesmo quando escuridão abate
último suspiro da noite.Sou convidado construção
arquiteto, engenheiro
colecionadores de sonhos
alimentados por movimentos.Inveja transparente quase água
como a chuva que nos lava
em corpo, sombra, imagem
nossos sinceros suspiros
libertando a possessão
desse domínio.Sentimento consciente
abrimos o coração
para sentir os espinhos
quando nos abraçamos
e sabemos que
nossa pele
nosso sonho
nosso riso
evoca mais do que saudade;ao seu lado,
toda partida
desperta coragem.Ser quem sou
é mero reflexo
do que nos trouxe aqui.
torpor prático
por Mônica Barroslivros empilhados na estante
pensamento enfileirados em cadeia
suor escorrendo do rosto
quarta-feira de cinzasfaltou energia quando tentei dormir
li seu nome num rascunho antigo
temia esquecer as coisas ainda tão jovem
escolhi pagar o preço da lembrançaescrevi o prelúdio de uma valsa bastarda
nas areias da praia, misturei intensidade
doses de saudade e boas companhia
para festejar verão em carne e osso.
Dezembro é verão
por Augusto FloresA disposição para lutar
não reside nestes braços,
e a miséria é seu maior fardo.Os males da ansiedade pandêmica
culminou no grito dos excluídos
na base da cadeia alimentar.Não basta crer em mudanças;
transformações sinceras não surgem do nada
testemunhe do assassinato dos seus sonhos
antes de completar maioridade.Violência infundada
no coração dos homens
germinou ódio
no jardim do Éden.Seria Eva apenas um reflexo de Adão,
um complexo de Narciso?Há uma cova aberta
por trás da igreja,
onde enterramos segredos
quando a noite vem.Ausência paterna,
cicatrizes da infância,
e o céu chora
mesmo no mês mais quente.
Há quem interessar
porNuvens baixas na costa
quase encosto as mãos
será que são como algodão?Quem sabe sua densidade
me leva à algum lugar
que não seja como essa cidade.Dou graças ao que me resta
do tempo, engano
não fui feito para espera.Tão incansavelmente fluem
não poderia ser de outro jeito,
não é?Sempre permitir que vá
abstendo da culpa
por sentir…Que vá!
Feito as correntezas do rio
e os devaneios sombrios.Recolho minha cabeça sobre o tédio
finjo desmaio,
enfim, parto.Dores no estômago,
sinto sede e frio
temores e calafrios.Os meus olho baixos,
talvez perto demais da maresia
cada vez mais sonolentos.Ouço o palpitar no peito
que adormece submerso
enfrentando o inverno.Outrora inferno
casa dos mil escravos
mentes de um corpo só.Já se viu preso no próprio tempo?
Vivo a questionar momentos
em movimento, translação
quantas voltas teria que dar
até poder segurar sua mão,
e antes que o sol vá lá
para o outro lado.Quantas vezes terei de ver o sol raiar
por não ter dito o que quero falar
e angustiado, matuto
em minha cabeça chata,
como é que largo essa dor
ora é chaga, noutra amor
quem me dera saber explicar
só sei que sinto saudade,
e desta língua só conheço a sua.
Ícaro não conhecia limites
por Greto AgrilleUsurpas da carcaça caída
os últimos míseros sentidos.Numa anedota trivial do cotidiano,
vulgo diário divino.Este que dizem escrever certo por linhas tortas
ora, então ante seu destino tu não poderias
sentir tanta culpa pela falta de controle,
ferve o chão do inferno das nossas mentes.Quem é que nos salva dos nossos apocalipses?
Eu não saberia dizer
com quantos gravetos se fazem um barco,
ou com quantos poetas se fazem um Deus,
mas conduziria sua passagem pelo caminho de forma menos dolorosa.Odeio pensar que na melhor das hipóteses
retornamos ao pó,
isso se nos for permitido,
esse ciclo eterno ínfimo e tedioso.Tudo acaba no nariz de um jovem,
ou em suas veias, quem sabe a morte
seja assim tão jovem quanto a vida
e por vezes tema o abandono tanto quanto nós.Deus nos dá a passagem de ida,
mas quando é que a gente volta?
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