Só sei que foi assim #5
Ser livre custa caro e não ter dinheiro me angustia (o capitalismo é isso). Recuso-me a pagar com a dignidade: não sou um dos muitos que se vendem ao imperialismo dos EUA com a alma em liquidação.
O Alienista
por Cristian Abreu de Quevedo
O imperador perdeu o controle do império. Agora tenta reafirmar sua autoridade: “Eu fiz porque eu posso”, diz Trump sobre o tarifaço.
Desde que comecei a estudar filosofia — especialmente filosofia política, em meados dos anos 2000 — sempre me interessei em compreender como a política interfere em nosso cotidiano. Descobri, muito cedo, que a economia está intrinsecamente ligada à política — ou vice-versa. Muitos se surpreenderam ao saber que o então presidente dos EUA, Donald Trump, usou a política para impor tarifas ao Brasil (entre outros países), numa tentativa de interferir em nossa soberania nacional.
O golpe empresarial-militar de 1964, orquestrado pelos EUA em conluio com empresários e as Forças Armadas brasileiras, hoje parece mudar de slogan: “Não prendam Bolsonaro, ou arrasaremos vocês novamente.”
Hannah Arendt foi a filósofa — ou cientista política, como ela própria se definia — que escolhi como referência em minha especialização em filosofia. Hannah Arendt nasceu em 1906, na Alemanha, e foi forçada a fugir do regime nazista por ser judia. Passou pela França e depois se estabeleceu nos Estados Unidos, onde se naturalizou e escreveu boa parte de sua obra mais influente. Lá, encontrou uma democracia que, embora marcada por contradições internas, especialmente o racismo estrutural e a guerra fria, ainda preservava espaços de debate público que a fascinaram. Para Arendt, liberdade não era fazer o que se quer no plano privado, mas participar da vida pública, ter voz e presença no espaço político. A política, em seu sentido mais nobre, era ação entre iguais, era poder construído coletivamente pela palavra e pelo gesto. E a economia, em contraste, pertencia à esfera da necessidade: onde não há liberdade, apenas sobrevivência. O problema começa quando confundimos as duas esferas e passamos a governar politicamente sob a lógica econômica: é aí que a liberdade desaparece.
O Golpe empresarial-militar de 1964 não foi apenas um episódio local da história do Brasil. Ele fazia parte de um movimento maior de intervenção dos Estados Unidos em países da América Latina, sob o pretexto de conter o avanço do comunismo. Na verdade, o que os EUA queriam era garantir que seus interesses econômicos e estratégicos na região não fossem ameaçados. O Brasil vinha experimentando reformas de base, nacionalizações e um fortalecimento do Estado em setores chave: sinais que alarmaram a Casa Branca e sua máquina de guerra ideológica. O golpe foi apoiado por empresários brasileiros que temiam perder privilégios e por militares treinados nas doutrinas da Escola das Américas. A interferência foi clara, direta e documentada: financiaram, orientaram, e celebraram a queda de João Goulart.
Hoje, o cenário se repete com novos personagens. A prisão iminente de Jair Bolsonaro, investigado por crimes que vão de corrupção a tentativa de golpe, é vista por setores da extrema-direita como uma “perseguição política”. E é nesse contexto que surge novamente a sombra dos Estados Unidos, desta vez representada por Donald Trump. Não por acaso, Bolsonaro buscou se alinhar ao trumpismo, copiando seu discurso, seus métodos, e até sua retórica de “salvar a pátria”. Trump, por sua vez, já demonstrou em vários momentos que sua política externa não reconhece soberanias quando se trata de proteger aliados ideológicos. A ameaça “não prendam Bolsonaro” ecoa como uma chantagem velada, que carrega os mesmos interesses de sempre: manter governos submissos, garantir o lucro de corporações e impedir que a América Latina escolha, livremente, seus caminhos.
Ser livre custa caro e, sim, não ter dinheiro me angustia. Mas aprendi com Arendt que a liberdade não se mede pelo consumo, e sim pela capacidade de agir com dignidade diante do mundo. Quando o capitalismo sequestra a política, transforma tudo em mercadoria: corpos, terras, saberes, até mesmo afetos. E nesse cenário de precariedade generalizada, é tentador vender a alma em troca de segurança, prestígio ou silêncio. Mas me recuso. Me recuso a ceder à lógica do imperialismo que corrompe a soberania com acordos obscuros, que transforma líderes em marionetes e que empobrece nossos sonhos em nome de uma falsa ordem global. Prefiro a angústia da liberdade à paz da submissão.
Não sou um dos muitos que se vendem ao imperialismo dos EUA com a alma em liquidação. Porque sei o preço de falar, de escrever, de resistir e escolho pagá-lo. A história recente do Brasil nos mostra o quanto custa defender o que é nosso: cada tentativa de autonomia foi esmagada por interesses externos disfarçados de diplomacia, livre comércio ou “democracia”. Arendt nos alerta: quando a política vira apenas gestão econômica, resta apenas obediência. E eu escolho desobedecer. Escolho continuar acreditando que pensar politicamente é um ato de liberdade radical. E que ninguém: nem Trump, nem Bolsonaro, nem seus aliados vai apagar da nossa história a luta por um país que não se vende.
Duas datas, 6 de janeiro de 2021 e 08 de janeiro de 2023, dois países, um mesmo roteiro: o preço da mentira autoritária que pagamos pelo extremismo.
Não mexe na minha estante!

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Quem avisa…?
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Estamos passando por mudanças em todo nosso planejamento dentro da Impérios Sagrados, não esperamos encontrar a fórmula mágica para vender livros (mas até que gostaríamos). Nosso objetivo é continuar sonhando junto com a nossa equipe, criando novos livros, revisando textos, diagramando e movimentando o Substack: formando uma verdadeira comunidade. Você pode fazer parte!
Nosso calendário semanal de publicações agora é de Segunda à Sexta, ocasionalmente podemos ter publicações especiais nos fins de semana.
Segunda: Só sei que foi assim… [esta news assinada pelas três vozes da Diretoria IS: Bernardo, Welyson e Cristian]
Terça: Autoras e Autores do Grupo do Substack IS
Quarta: Podcast IS por Welyson Pereira de Almeida. Está quarta sai o episódio: a série Coisa mais linda.
Quinta: Varalzinho por Gabriel Bernardo (você já enviou o seu poema para nós? participe!)
Sexta: Pipoca na manteiga por Cristian de Quevedo. Esta sexta o tema será: O desejo em crise: do burnout ao tédio erótico.
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Nosso Podcast: Podcast IS
Excelente texto devemos continuar nesta luta para preservar nossa soberania e valores